PM preso arruma amante em app e frauda visita íntima com dados da esposa
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O soldado Eduardo José de Andrade, recolhido no Presídio Militar Romão Gomes, na Água Fria, zona norte de São Paulo, conseguiu burlar as regras na unidade prisional ao ter acesso na cela a um telefone celular em fevereiro do ano passado.
O caso só veio a público agora porque, no último dia 11, a Corregedoria da Polícia Militar prendeu quatro PMs suspeitos de envolvimento em um esquema de corrupção. Os agentes são acusados de cobrar propina dos presos para permitir a entrada de celulares, drogas e anabolizantes na prisão.
Segundo as investigações, foi com um desses aparelhos que Andrade teve acesso a um aplicativo de relacionamento amoroso e passou a se comunicar e a namorar com uma garota. O soldado pediu para ela lhe enviar os dados pessoais e providenciar uma foto.
O objetivo dele era ter visita íntima com a garota. O benefício, no entanto, é permitido apenas para os presos que têm esposa. De dentro do presídio, Andrade, condenado a 29 anos por um homicídio cometido no interior de São Paulo, falsificou uma CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
Andrade colocou no documento a foto da namorada com o nome e outros dados de sua esposa. A CNH foi enviada à garota pelos Correios. A falsificação —diz a investigação— era grosseira, mas foi com ela que a namorada conseguir entrar no Romão Gomes em 25 de fevereiro de 2024.
O casal não teve dificuldade para ingressar na ala da visita íntima. O setor era fiscalizado por um soldado. O golpe, no entanto, foi descoberto pela administração do presídio porque um outro detento avisou que Andrade não estava com a esposa, mas com outra mulher.
Deitados no beliche
A namorada e o soldado estavam deitados na cama, na parte de baixo de um beliche coberto por uma cortina chamada de "quieto" na linguagem dos presos, quando um sargento e um tenente foram ao alojamento da visita íntima e flagraram o casal.
Em depoimento, Andrade admitiu que os dados e a foto do documento eram de pessoas distintas. Ele argumentou que a documentação havia sido confeccionada por pessoa de fora do presídio. A CNH falsificada foi encontrada em um armário usado por ele.
Em 16 de dezembro de 2024, o juiz José Álvaro Machado Marques, do Tribunal de Justiça Militar, condenou Andrade a 4 meses e 3 dias, com base no artigo 218 do Código Penal Militar (atribuir a terceiros, perante a administração militar, falsa identidade para obter vantagem em proveito próprio).
No mês passado, graças à colaboração de Andrade, a Corregedoria da Polícia Militar desmantelou a rede de corrupção no Romão Gomes. Foi apurado que dois sargentos responsáveis pela guarda do presídio permitiam a entrada dos celulares e outros itens ilegais.
Além dos dois sargentos, a Corregedoria da PM identificou a participação de outros militares no esquema. Foram apreendidos cinco telefones celulares com um cabo que atuava como carcereiro. O sigilo telefônico de Andrade foi quebrado e revelou conversas com traficantes de drogas.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados do soldado Eduardo José de Andrade. O espaço continua aberto para manifestações. O texto será atualizado assim que houver manifestação dos defensores dele.
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