Josias de Souza

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Opinião

Acareação encolheu Mauro Cid

Mauro Cid saiu da acareação com o general Braga Netto menor do que entrou. Sem alarde, discute-se nos bastidores do Supremo a hipótese de redução ou até eliminação do prêmio judicial reivindicado pelo ajudante de ordens de Bolsonaro por sua colaboração no caso da tentativa de golpe.

Ao proibir a transmissão e até a gravação do confronto de versões, Alexandre de Moraes sonegou à plateia a coreografia do encolhimento. Considerando-se o teor da ata, a dignidade exibida pelo delator em certas passagens caberia numa caixa de fósforos.

No trecho em que mais se apequenou, Cid foi convidado a explicar por que demorou a revelar à Polícia Federal que Braga Netto lhe entregou dinheiro numa sacola de vinho, para financiar as ações do dispositivo golpistas dos kids pretos. Atribuiu a falta de memória ao fato de que estava "em choque" por causa da prisão de companheiros de farda.

Referia-se ao encarceramento preventivo, em 19 de novembro de 2024, de cinco militares acusados de envolvimento no plano para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Dois dos presos eram amigos de Cid. Um deles era justamente o destinatário do dinheiro que o delator diz ter recebido de Braga Netto. Coisa de R$ 100 mil.

Quer dizer: a prisão dos amigos deveria ter reavivado, não apagado as lembranças de Cid. Além da seletividade, a delação do faz-tudo de Bolsonaro foi marcada pelo ritmo de conta-gotas. No total, foram nove depoimentos. Na sessão em que o delator virou réu, três dos cinco ministros da Primeira Turma do Supremo levaram o pé atrás.

"Vejo com muita reserva nove delações de um mesmo colaborador, cada hora acrescentando uma novidade", disse Luiz Fux. "Nove delações significam nenhuma delação."

Cármen Lúcia e Cristiano Zanin ecoaram o colega. Ambos reconheceram que a colaboração tem problemas. Ficou no ar a percepção de que o comportamento de Cid será avaliado na hora de definir a pena.

É improvável que delatados como Braga Netto se livrem de uma condenação, pois há contra eles nos autos do processo mais do que meras palavras. Mas Cid vai se tornando um delator cada vez menos premiado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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