Jamil Chade

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Trump ordena 3 mil detenções de estrangeiros por dia; Brasil teme tensão

O governo de Donald Trump estipulou a meta de realizar 3 mil prisões de estrangeiros por dia, numa ofensiva que resultará em mais de 1 milhão de detenções por ano. O número, que representa três vezes mais que no início de sua administração, colocou governos latino-americanos em alerta.

No caso do Brasil, diplomatas confirmaram ao UOL que a preocupação é de que a medida represente um "profundo" impacto para a comunidade brasileira nos EUA. Fontes do governo Lula apontam que a proliferação de prisões tem criado tensão entre os estrangeiros nas grandes cidades americanas, com a explosão no número de detenções. Apenas na região de Boston, onde vivem mais de 400 mil brasileiros, o volume de prisões triplicou desde janeiro.

Até agora, dez voos foram organizados para que os brasileiros detidos fossem deportados ao país. Mas fontes em consulados do país nos EUA admitem que os relatos são cada vez mais desesperados por parte de famílias.

A preocupação do governo brasileiro é de que, para atingir esse número de 3 mil detenções por dia, as autoridades americanas ignorem processos judiciais.

A decisão de Trump para triplicar o número de prisões por dia foi tomada no dia 21 de maio, em uma reunião marcada por uma tensão entre diferentes agências do governo Trump. O republicano havia prometido, em sua campanha eleitoral, que faria a maior operação de deportação da história.

Mas os primeiros números vieram abaixo da média mensal do governo de Joe Biden. Trump ainda ordenou a investigação de vazamento de informações de dados das operações, que estaria abalando a capacidade de o governo cumprir suas promessas de campanha.

Irritada com os números abaixo do esperado, a Casa Branca passou a pressionar agentes de segurança e organismos estatais a modificar a forma de agir contra os estrangeiros.

Documentos internos do governo publicados pelo jornal Washington Post revelaram que a agência de imigração dos EUA, conhecida pela sigla ICE, foi orientada a prender pessoas em tribunais imediatamente após um juiz ordenar sua deportação ou após seus processos criminais serem arquivados e elas tentarem sair.

Até meados de maio, 49 mil estrangeiros estavam detidos em centros mantidos pela ICE. O número é 10 mil a mais do que existia em 20 de janeiro, quando Trump assumiu a presidência.

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Outra forma de acelerar o número de detenções e prisões tem sido a ordem para que juízes de imigração avaliem em um curto espaço de tempo se um pedido de asilo político pode ou não ser atendido. Até Trump assumir a presidência, um pedido de refúgio levava cerca de 15 meses para ser analisado.

De acordo com o governo americano, março foi o segundo mês consecutivo em que a Patrulha de Fronteira dos EUA registrou a menor média de apreensões diárias em todo o país da história, com aproximadamente 264 por dia em março. "Isso é 20% menor do que a média diária de 330 apreensões em todo o país em fevereiro e 94% menor do que a média de 4.488 por dia em março de 2024", afirmou a Patrulha.

"Em março de 2025, a agência apreendeu 7.181 estrangeiros ilegais cruzando a fronteira sudoeste entre os portos de entrada. Isso representa uma redução de 14% em relação a fevereiro de 2025, quando ela apreendeu 8.346 estrangeiros, e uma redução de 95% em relação a março de 2024, quando apreendeu 137.473 estrangeiros", disse.

ONU preocupada com violações de direitos humanos

A ofensiva de Trump gerou uma forte preocupação por parte da ONU. De acordo com o Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, 142.000 pessoas foram deportadas dos EUA entre 20 de janeiro e 29 de abril.

A ONU afirma ter uma preocupação especial diante da prisão de estrangeiros e que, depois, são enviados para El Salvador. "O destino e o paradeiro de pelo menos 245 venezuelanos e cerca de 30 salvadorenhos enviados a El Salvador permanecem obscuros", afirmou a entidade.

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"Muitos foram deportados de acordo com a Lei de Inimigos Estrangeiros dos EUA como supostos membros de grupos criminosos e teriam sido detidos no Centro de Confinamento de Terrorismo (CECOT) no país centro-americano", apontou.

Os detentos da prisão de segurança máxima são tratados de forma particularmente severa, sem acesso a advogados ou familiares e não têm contato com o mundo exterior.

Os relatórios indicam que muitos dos detentos não foram informados da intenção do governo dos EUA de deportá-los para serem detidos em um terceiro país.

Além disso, muitos não tiveram acesso a um advogado e não puderam contestar a legalidade de sua remoção antes de serem levados de avião.

"Essa situação levanta sérias preocupações com relação a uma ampla gama de direitos que são fundamentais tanto para o direito norte-americano quanto para o direito internacional", disse Volker Türk, alto comissário da ONU para Direitos Humanos.

Segundo ele, nem as autoridades norte-americanas nem as salvadorenhas publicaram listas oficiais dos detidos.

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