Renan rejeita conciliação com Lira em ação no STF: 'Adversários declarados'

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O senador Renan Calheiros (MDB-AL) informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que não tem interesse em uma audiência de conciliação na queixa protocolada pelo deputado federal Arthur Lira (PP-AL) por supostos crimes contra a sua honra. O caso tem a relatoria do ministro André Mendonça.
Na petição entregue no último dia 29, os advogados de Calheiros afirmam que os dois são "adversários políticos declarados" e que uma audiência entre eles, como sugere a PGR (Procuradoria-Geral da República), seria "infrutífera" para chegar a uma conciliação.
O próprio Parquet [MPF] já se manifestou pela rejeição da queixa-crime, tendo em vista que, diante dos fatos narrados, o querelado [Arthur Lira] encontrava-se abarcado pela imunidade material parlamentar. Diante do exposto, requer o regular prosseguimento do feito [ação].
Petição dos advogados de Renan
Entenda o caso
Em julho de 2023, Lira apresentou uma queixa-crime à Justiça Federal de Brasília e afirmou que foi alvo de calúnia, difamação e injúria por Calheiros.
O ex-presidente da Câmara relatou à Justiça uma publicação no Instagram, em dezembro de 2022, na qual o senador relacionou Lira a desvios de verbas públicas, irregularidades no chamado "orçamento secreto" e interferência na Polícia Federal em Alagoas.
O caso, entretanto, mudou de tribunal, após Calheiros questionar no STF que o processo deveria tramitar na suprema corte por conta da sua prerrogativa do foro de função. A defesa de Lira entendia que as falas não tinham relação com o exercício do mandato —e por isso não estariam protegidas pela imunidade parlamentar.
O ministro André Mendonça concordou com os argumentos da reclamação e suspendeu o caso da 1ª Vara Criminal de Brasília (veja a decisão), e o STF assumiu a causa.
Desafetos
Os dois políticos têm uma longa história de rivalidade política em Alagoas, que se acentuou com a ascensão de Lira no cenário nacional ao assumir à presidência da Câmara dos Deputados. A partir de então, eles passaram a trocar farpas públicas.

Em Alagoas, os dois lideram os maiores grupos políticos, com 90% das prefeituras sob comando de um dos dois partidos chefiados por eles. A vantagem é do MDB, chefiado por Renan, que em 2024 conquistou 65 prefeituras, contra 27 do PP, de Lira. Além disso, o MDB tem o governo do estado, com Paulo Dantas.
Em 2026, Lira e Renan podem travar, pela primeira vez, um embate eleitoral direto, já que o deputado tem planos para concorrer ao Senado, mesma Casa em que Renan tentará a reeleição.
Entretanto, a disputa de Lira ao cargo ainda é vista como incerta, já que o acerto dele seria para sair candidato ao Senado em uma chapa com o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), que disputaria o governo de Alagoas. Mas JHC tem dado sinais de que pode romper o acordo e concorrer ao Senado, em vez de disputar o governo, o que tornaria a eleição de Lira mais difícil e forçaria o deputado a concorrer à reeleição.
Disputa trava indicação ao STJ

A definição, porém, ainda não ocorreu porque JHC está dedicado a tentar fazer sua tia, a procuradora Marluce Caldas, do MP (Ministério Público) de Alagoas, ser a escolhida pelo presidente Lula como ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ela é a única mulher a compor uma lista tríplice enviada a Lula — a vaga espera preenchimento há mais de um ano.
Uma das barganhas de JHC para ganhar força com Lula na indicação é que a mãe dele, Eudócia Caldas (PL), poderia passar a integrar a base do governo no Senado, algo visto como importante para votações na casa.
Os dois são cogitados para se filiar ao PSB, deixando assim o partido de Jair Bolsonaro (PL) e passando para fileiras lulistas em 2026. Entretanto, Lula estaria esperando a oficialização da saída do PL é um sinal "mais concreto" de que haverá, de fato, essa aproximação. Além disso, Lula tenta um acerto dos líderes alagoanos para 2026 e não colocar ainda mais fogo na disputa de nomes importantes em Brasília.
Marluce é apontada por muitos como favorita à vaga, mas sabe-se que Lula tem sofrido pressões a favor e contra a procuradora. Nos bastidores, fala-se que uma das vozes contrárias seria a do próprio Lira, que vê o acordo como um empecilho à seu plano de concorrer ao Senado.
Já Renan tem feito elogios a Marluce e a JHC e seria um dos interlocutores da indicação dela ao STJ, desde que passasse por um acordo que o beneficiasse. Ele também diz que o MDB estaria de portas abertas para receber o prefeito de Maceió. "Para Alagoas seria melhor ter JHC que Lira no Senado", disse recentemente à coluna.
Se decidir concorrer ao governo, JHC teria de encarar o ex-governador Renan Filho (MDB), que é ministro dos Transportes de Lula. Apesar da grande aprovação na capital, JHC sofre de um certo isolamento político, sem nenhum prefeito do partido no interior.
A ideia seria que, nesse cenário, JHC arriscaria alto em deixar mais de dois anos e meio de mandato na prefeitura para tentar se eleger ao governo sem base no interior.
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