'Prometeu me destruir': quem era espírito que Divaldo dizia que o perseguia

O líder espírita Divaldo Franco, que morreu no dia 13 após meses tratando um câncer, relatou ter sido perseguido por 30 anos por um espírito que se apresentava como sacerdote romano e chegou a induzi-lo ao suicídio.

O que aconteceu

O médium baiano Divaldo Franco afirmava ter sido perseguido durante três décadas por um espírito obsessor que se identificava como um sacerdote romano. O caso está relatado com detalhes na biografia "O Semeador de Estrelas", escrita por Suely Caldas Schubert, e publicada pela Mansão do Caminho, centro espírita fundado pelo médium em Salvador (BA).

Desde a juventude, Divaldo dizia perceber a presença de uma entidade sombria e ameaçadora, que se apresentava com o rosto coberto. "E se eu não seguisse as suas diretrizes, destruir-me-ia", afirmou o médium, ao relatar os primeiros contatos com o espírito, ainda na adolescência.

A figura passou a ser chamada por ele de 'Máscara de Ferro', em alusão ao aspecto encoberto do rosto e à rigidez com que se comunicava. "Até onde vai a minha lembrança eu sempre detectava a presença de uma Entidade, um sacerdote romano, respeitável, com ares adversários contra mim, numa atitude agressiva, ameaçando-me, a princípio de forma educada e depois com muita rispidez — e prometendo que, se eu não seguisse as suas diretrizes ele terminaria por me destruir", contou. Em uma de suas aparições mais vívidas, segundo Divaldo, "o seu rosto me fazia lembrar a personagem do filme com a 'máscara-de-ferro', só que o ferro estava como que incandescente".

Tentativa de suicídio

A influência do espírito foi tão intensa que quase levou Divaldo ao suicídio aos 19 anos. "Ele me disse: 'Não tenhas medo. É a libertação'", recorda. Sob efeito da sugestão, entrou no mar decidido a morrer, mas acabou salvo por um grupo de jovens que brincava na areia.

O médium relata também que foi agredido fisicamente na rua da Misericórdia, em Salvador, por um homem desconhecido — e atribui o episódio ao espírito perseguidor. Segundo ele, o obsessor "aproveitou-se da raiva do agressor" e atuou como um catalisador invisível do ataque. O evento se tornou um dos marcos da perseguição espiritual. Após a agressão, Divaldo relatou ter visto novamente o espírito: "Você mudou apenas de roupa, mas é a mesma pessoa e eu o matarei".

A situação se prolongou por anos, até que, em 1960, o espírito se manifestou publicamente durante uma reunião mediúnica com Chico Xavier, em Uberaba. "Ele não se apresentou como inimigo. Falou como sendo aquele que vinha cumprir uma missão: destruir o Espiritismo", relatou Divaldo. O médium interpretou a mensagem como uma tentativa de sabotar a doutrina e "baratear a mediunidade".

Apesar das ameaças, Divaldo não rompeu emocionalmente com o espírito. Ao contrário, continuou falando dele com empatia e acreditava que se tratava de uma alma profundamente perturbada e arrependida de seus próprios erros do passado. "Há um estranho fascínio na figura hedionda, assustadora — como a evocar as ligações do pretérito, os dias longínquos vividos entre as naves de altares e escuros corredores dos mosteiros, iluminados por tochas bruxuleantes", escreveu Suely Caldas Schubert.

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A autora relata ainda que a aparência assumida pelo espírito — com máscara incandescente — foi uma forma de aterrorizar o médium e remeter às suas culpas espirituais mais antigas. O próprio obsessor afirmava a Divaldo: "Você se comprometeu conosco — a chamada Igreja militante — para engrossar as fileiras do clero, quando retornasse à Terra, e traiu-nos vergonhosamente, indo participar de uma doutrina abjeta".

Reencarnação da mãe

O desfecho da história veio de forma inesperada, anos depois, por meio de um gesto de acolhimento. Uma criança desnutrida, em extrema vulnerabilidade, chegou à Mansão do Caminho. Divaldo decidiu ampará-la, como fizera com centenas de outras.

Mais tarde, o próprio espírito apareceu e revelou, emocionado, que aquela criança era a reencarnação de sua mãe. "Ao ver a reencarnação da sua mãe sendo amparada por mim, ele se rendeu", relatou Divaldo. Segundo ele, o gesto de compaixão foi suficiente para desarmar o antigo adversário.

O espírito, antes obsessor, passou a frequentar as reuniões mediúnicas e até a levar outras entidades sofredoras para serem socorridas. Divaldo afirmou que o vínculo entre os dois se transformou e que o espírito passou a colaborar na tarefa mediúnica, ajudando a "resgatar outros" como ele.

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