Lula aposta até em carro elétrico da China em Goiás, mas vê voto distante
Ler resumo da notícia
A viagem de Lula à China rendeu uma série de acordos de investimentos, entre os quais o anúncio da montadora chinesa GAC, que pretende destinar US$ 1,3 bilhão (R$ 7,39 bilhões) para produzir carros elétricos e híbridos em Goiás, reativando uma fábrica da Mitsubishi na cidade de Catalão.
A medida, no entanto, não deve resultar diretamente em votos na eleição de 2026 para o petista, caso ele se candidate à reeleição, dizem aliados e adversários do presidente.
O atual governador, Ronaldo Caiado (União Brasil), é adversário histórico de Lula. Eles disputaram a vaga à Presidência em 1989, e o goiano já se colocou como postulante ao Palácio do Planalto em 2026. Em fevereiro, a aprovação de Caiado junto ao eleitorado do estado era de 86%, segundo pesquisa Quaest, colocando o político entre os governadores mais bem avaliados do país.
Assim como em outros estados do Centro-Oeste e em regiões do agronegócio, o antipetismo é forte em Goiás. O eleitorado e as lideranças políticas têm sido nos últimos anos alinhados ao bolsonarismo.
"Em Goiás, o governador Maguito Vilela foi o responsável por levar a Mitsubishi em 1998, no mesmo ano em que o adversário político do grupo [Marconi Perillo] foi eleito governador", diz Lucas Vergilio, ex-deputado federal que atuou como líder do Solidariedade na Câmara e agora exerce mandato como vereador em Goiânia pelo MDB.
Vergilio diz que a atração de investimentos e a geração de empregos são positivas, mas que a chance de isso se reverter em voto para o governo federal é baixa. "Não vejo ganho eleitoral para o PT."
Um aliado de Lula que prefere não ter o nome divulgado diz que a atração de investimentos a um local não está associada diretamente ao aumento da popularidade e esse descolamento tem aumentado nos últimos anos.
Ele cita como exemplo os aportes feitos pelo governo federal no Rio Grande do Sul após a tragédia das chuvas. Diz também que os investimentos na Embraer não dão retorno eleitoral em São José dos Campos (SP).
Uma fonte próxima a Caiado diz que o governador tem como capitalizar o investimento anunciado pelo governo federal e usar sua força política e a máquina do estado para não deixar o adversário avançar nesse campo —por exemplo, dizer que abriu caminho para investimentos chineses no estado. No fim de 2023, ele passou 14 dias em missão no país.
Em abril de 2025, a multinacional chinesa Teld Eco Charger anunciou investimento de R$ 100 milhões em uma unidade fabril em Anápolis (GO) para produzir equipamentos para carros e ônibus elétricos, além de três eletropostos de carregamento rápido em Goiânia.
Investimentos em regiões com agronegócio
Esta foi a quarta visita oficial de Lula à China e o terceiro encontro com Xi Jinping nos últimos dois anos. De acordo com o governo, os chineses vão investir mais de R$ 27 bilhões no Brasil.
Antes, o presidente foi à Rússia também para tratar de negócios.
Guilherme Casarões, professor de política internacional da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que, entre os acordos assinados, parte importante trata indiretamente de interesses do agronegócio.
"As viagens de Lula para Rússia e China possuem importante significado para a política doméstica. De olho nas eleições de 2026 e buscando minimizar os impactos das crises internas, o governo traz um amplo pacote de acordos bilaterais que visam ampliar as exportações de commodities e atrair investimentos nos setores automotivo, agrícola e de infraestrutura, com efeitos mais diretos para o Centro-Oeste", afirma.
"O foco dos acordos representa uma maneira de minimizar a rejeição a Lula e ao PT em regiões eleitoralmente estratégicas, mas associadas ao bolsonarismo", diz Casarões.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.