Plataforma eleitoral de Tarcísio pode virar propaganda de Lula

Tarcísio de Freitas tornou-se um ser humano estranho. Insiste em dizer que disputará a reeleição em São Paulo. E faz pose de opção presidencial do café da manhã ao jantar. Nesta terça-feira, em artigo publicado na Folha, o governador dedica-se a bater o bumbo do programa "Superação", a sua versão do Bolsa Família.

Três dias antes de depor no Supremo como testemunha de defesa de Bolsonaro, Tarcísio se oferece como contraponto de Lula sem citá-lo. Ecoando a principal crítica ao Bolsa Família, anotou que "é preciso, sim, dar o peixe às pessoas que têm fome". Mas "a gente precisa, sim, em seguida, ensiná-las a pescar".

O lema do Bolsa Tarcísio —"Superar e prosperar"— tem um pé na igreja e outro no empreendedorismo. Numa comparação direta, a plataforma de Tarcísio pode virar propaganda de Lula. Hoje, o programa federal beneficia 20,5 milhões de famílias. A meta do Bolsa Tarcísio é chegar a 105 mil famílias.

O Bolsa Família custa R$ 158 bilhões por ano. Isso é mais de 2% do orçamento federal. O "Superação" foi orçado em R$ 150 milhões. Vitaminado por outras rubricas sociais, chega a R$ 540 milhões. Isso é menos do que 0,2% do orçamento de São Paulo.

Tarcísio demora a perceber, de resto, que os torpedos que dispara na direção de Lula acertam os pés de barro do seu criador. Como deputado, Bolsonaro chamava a clientela do Bolsa Família de "voto de cabresto do PT". Na Presidência, quase triplicou o benefício, elevando-o para R$ 600 mensais.

Bolsonaro talvez preferisse que sua criatura se dedicasse a trombetear a anistia e questionar a sua inelegibilidade. A sede federal de Tarcísio pode acabar quebrando o pote do capitão.