Israel suspende ataques após pedido de Trump; Irã diz que respeitará acordo

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O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou hoje Israel e Irã de violarem o acordo de cessar-fogo anunciado ontem. Segundo a Casa Branca, ele teria ligado do Air Force One, nave que o transportava para a cúpula da OTAN, ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dando uma mensagem "direta" sobre a necessidade de suspender os ataques.
"O primeiro-ministro entendeu a gravidade da situação e as preocupações expressas pelo presidente Trump", disse a Casa Branca. Em seguida, Netanyahu anunciou que seu país se abstém "de novos ataques".
"Na ligação, o presidente Trump expressou seu profundo apreço por Israel, dizendo que o país havia alcançado todos os objetivos da guerra. Ele também expressou confiança na estabilidade do cessar-fogo", disse o comunicado do governo dos EUA.
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou que respeitará o acordo de trégua se Israel também o fizer. ''Se o regime sionista não violar o cessar-fogo, o Irã também não o violará'', afirmou hoje durante uma conversa telefônica com o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, de acordo com o site da presidência.
Fontes diplomáticas confirmaram ao UOL, entretanto, que o status do cessar-fogo "é uma grande incógnita". A esperança de negociadores é de que as acusações e disparos dessa madrugada sejam apenas um esforço político de ambos os lados para ter "a última palavra" antes de os canhões silenciarem.
Três horas após o anúncio sobre cessar-fogo ontem, o gabinete de Netanyahu acusou o Irã de ter violado o pacto. Na manhã de hoje, ordenou uma "resposta firme" aos mísseis supostamente lançados por Teerã. O regime iraniano negou que tenha desrespeitado o entendimento, confirmou o cessar-fogo e disse "não confiar" na "palavra do inimigo".
O gabinete disse que as Forças Armadas de Israel "destruíram uma instalação de radar perto de Teerã" em retaliação a vários ataques anteriores com mísseis iranianos que foram descritos como "violações" da trégua.
Antes da pressão de Trump, o governo de Netanyahu havia alertado que iria retomar os ataques. "Instrui as Forças de Defesa de Israel, em coordenação com o primeiro-ministro [Benjamin Netayanhu], a responder vigorosamente à violação do cessar-fogo pelo Irã por meio de ataques intensos contra alvos do regime no coração de Teerã", anunciou Israel Katz, ministro da Defesa de Israel.
Sua declaração nas redes sociais foi publicada às 6h44 (horário brasileiro) e quase seis horas depois da entrada em vigor do acordo.
O regime iraniano violou gravemente o cessar-fogo declarado pelo presidente dos Estados Unidos e lançou mísseis em direção a Israel e, de acordo com a política do governo conforme determinado, responderemos com força a qualquer violação
Israel Katz
Trump cita 'violação' e diz que Israel não vai atacar Irã
Diante das acusações, Trump foi às redes sociais e ordenou que Israel parasse os ataques. "Israel, não jogue essas bombas. Se vocês fizerem isso, será uma grande violação. Traga seus pilotos para casa agora", disse. Minutos depois, o presidente afirmou que Israel não atacaria o Irã. "Todos os aviões vão fazer a volta e ir para casa", afirmou, reassegurando a validade do cessar-fogo.
Na segunda-feira, para a surpresa da comunidade internacional, Trump afirmou que tanto Israel como o Irã tinham aceitado o acordo e que ele iria entrar em vigor seis horas depois daquela declaração, à meia-noite do horário de Washington.
Os dois países, porém, se mantiveram em silêncio e houve dúvida se o acordo existia de fato. Mas, no horário estabelecido, o governo israelense confirmou que concordou com a proposta, 12 dias após dar início ao conflito militar direto com o Irã.
"Israel agradece ao presidente Trump e aos EUA por seu apoio na defesa e sua participação na eliminação da ameaça nuclear iraniana", disse o governo. "Em vista da realização dos objetivos da operação e em total coordenação com o presidente Trump, Israel concordou com a proposta do presidente para um cessar-fogo bilateral".
O acordo, porém, foi atingido depois de Israel ter "alcançado todos os objetivos da operação, removendo a dupla ameaça existencial imediata de si mesmo - tanto no campo nuclear quanto no de mísseis balísticos".
"Na Operação Rising Lion, o Estado de Israel alcançou grandes conquistas históricas e se colocou em pé de igualdade com as potências mundiais", insistiu. "Esse é um tremendo sucesso para o povo de Israel e seus combatentes, que eliminaram as duas ameaças existenciais ao nosso Estado e garantiram a eternidade de Israel", completou.
Naquele momento, Israel indicava que responderia com força a qualquer violação do cessar-fogo.
Trump foi às redes sociais anunciar que a trégua já estava em vigor e pediu aos dois lados que não a violem. Já Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, comemorou o acordo e convidou uma delegação iraniana a iniciar negociações sobre o futuro de seu programa nuclear.
Israel acusa Irã
Mas, menos de três horas depois da entrada em vigor do acordo, o governo de Israel indicou que detectou outra ofensiva com dois mísseis iranianos. Sirenes soaram no norte do país e explosões puderam ser ouvidas quando as defesas aéreas israelenses dispararam.
Segundo o governo de Benjamin Netanyahu, ambos mísseis foram interceptados.
O ataque apontado por Israel ocorre após o Irã lançar, mais cedo, outras ofensivas na madrugada de terça-feira, danificando pelo menos três prédios residenciais densamente povoados em Beersheba. Quatro pessoas foram mortas.
Do lado iraniano, a acusação é de que Israel matou mais um cientista nuclear no norte do Irã. O ataque teria ocorrido antes de Trump dizer que um cessar-fogo estava em vigor. A vítima foi Mohammad Reza Seddighi Saber, que estava sob as sanções dos EUA.
Diante da situação, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que ordenou que as Forças Armadas do país respondessem "com força" ao que ele disse ser a violação de um cessar-fogo com Israel por parte do Irã.
Os militares israelenses disseram que estavam trabalhando para abater os mísseis iranianos depois de detectar o lançamento. Katz indicou que os militares haviam sido instruídos a realizar operações de alta intensidade contra alvos em Teerã.
"À luz da flagrante violação pelo Irã do cessar-fogo declarado pelo presidente dos Estados Unidos - por meio do lançamento de mísseis em direção a Israel - e de acordo com a política do governo israelense de responder energicamente a qualquer violação, instruí as Forças de Defesa de Israel a continuar as operações de alta intensidade visando os ativos do regime e a infraestrutura terrorista em Teerã", disse.
Os militares israelenses alertaram na terça-feira que "o perigo persiste", apesar de o governo ter anunciado anteriormente que havia concordado com um cessar-fogo. Já o ministro das Finanças de Israel e um dos líderes da extrema direita, Bezalel Smotrich, afirmou que "Teerã vai tremer".
Irã nega que tenha violado, diz que aceita acordo, mas mantém "dedo no gatilho"
Os iranianos negaram o ataque com mísseis. Numa declaração oficial, o Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã anunciou a "decisão nacional de impor a cessação da guerra contra o inimigo sionista e seus apoiadores vis".
Num esforço para manter a credibilidade, o regime iraniano afirmou que o país deu uma "resposta humilhante e exemplar à crueldade do inimigo" - culminando no ataque à base dos EUA no Qatar na noite passada e nos ataques com mísseis contra Israel na madrugada.
O governo Trump afirmou que o ataque havia sido "muito fraco", enquanto o Qatar garantiu que interceptou todos os mísseis. Mesmo assim, o Conselho disse que Teerã respondeu de maneira proporcional e oportuna, e "forçou o inimigo a se arrepender e aceitar a derrota e a cessação unilateral de sua agressão".
A versão é recusada por Israel e EUA, que garantem que destruíram o programa nuclear iraniano.
"As Forças Armadas da República Islâmica do Irã, sem qualquer confiança nas palavras do inimigo e com as mãos no gatilho, estão prontas para dar uma resposta decisiva e dissuasiva a qualquer ato violador do inimigo", completou o regime em Teerã.
O vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Majid Takht-Ravanchi, ainda agradeceu ao governo do Qatar pelo "papel construtivo" de seu país. Segundo ele, o Irã "está determinado a continuar e fortalecer as relações entre os dois países com base na boa vizinhança e nos interesses supremos".
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