Beatriz Bulla

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Reportagem

Foco nos mais pobres: a rota de Lula para recuperar popularidade

O dado que mais preocupa o governo Lula nas últimas pesquisas de aprovação e popularidade é a perda de apoio entre os brasileiros que ganham até dois salários mínimos. Os números mostram que cresce a desaprovação ao governo neste segmento. Além de ser a maior fatia do eleitorado, é justamente aquela que costuma preferir Lula a outros candidatos, e o resultado é visto como crítico dentro do Planalto.

A rota do governo para reconquistar a popularidade com os mais pobres tem três eixos: medidas de impacto imediato, ajuste no discurso com apelo à narrativa de "ricos versus pobres" e a tentativa de aproximação de trabalhadores hoje distantes da esquerda, como os entregadores.

A última pesquisa Quaest mostra que entre os que ganham até dois salários mínimos a desaprovação do governo Lula pulou de 26% na metade do ano passado para 49% em maio deste ano. A aprovação foi de 69% para 50% no mesmo período. Já o Datafolha trouxe um respiro de alívio no Planalto: entre os que ganham até dois salários mínimos, a aprovação oscilou para cima, dentro da margem de erro, para 32%. Ainda assim, bem distante do pico de 46% registrado em outubro e do patamar do início do governo.

No campo das medidas imediatas, o governo conta com a nova tarifa social de energia elétrica e a nova versão do vale-gás para melhorar a aprovação entre as famílias de baixa renda. Também considera que o pior da inflação de alimentos já passou, o que vai diminuir o desconforto das famílias. A aposta do Planalto é de que essas medidas, com o cenário de pleno emprego e um crescimento do PIB acima do projetado inicialmente, tendem a gerar uma sensação de melhora de vida entre os mais pobres.

Comunicação

Já no discurso, a orientação é intensificar a narrativa de que o governo tem um lado, e é o lado dos pobres. Isso deve ser explorado cada vez mais nas aparições públicas de Lula e também nas de seus principais ministros. Quem torceu o nariz para o último discurso do presidente, no qual ele disse que não foi eleito para beneficiar os ricos, deve se preparar para mais.

O Ministério da Fazenda tem usado esse argumento para defender as medidas econômicas apresentadas ao Congresso. Fernando Haddad, disse na semana passada que a medida provisória apresentada como alternativa ao decreto sobre IOF atingiria apenas os "donos de cobertura".

Em entrevista ao É Notícia, da RedeTV!, nesta semana, o secretário de política econômica da Fazenda, Guilherme Mello, foi na mesma linha. "São pessoas muito ricas, extremamente ricas, que estão fazendo grandes aportes para evitar a tributação. (...) As pessoas que hoje utilizam instrumentos de planejamento financeiro para não pagar impostos. Impostos que, em sua maioria, os trabalhadores quando fazem investimento pagam", disse Mello.

Ainda na comunicação da política econômica, o governo pensa em tornar mais clara e assertiva a comunicação sobre o projeto que amplia a faixa de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), que deve assumir uma cadeira de ministro no Planalto no segundo semestre, vem falando publicamente sobre o projeto do imposto de renda com uso da expressão "zerar o imposto", em vez de "isenção".

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Entregadores

Por fim, há uma constatação antiga no governo e dentro da esquerda sobre a desconexão desse campo político com as novas formas de trabalho existentes no país. Em 2022, o núcleo da campanha de Lula havia percebido isso, mas não conseguiu estabelecer uma estratégia eficiente de aproximação com os pequenos empreendedores, entregadores e motoristas de aplicativo. A eleição municipal de São Paulo no ano passado escancarou isso, com o apoio deste eleitorado ao influenciador Pablo Marçal e a derrota de Boulos, candidato de Lula.

A escolha de Luiz Marinho para comandar o Ministério do Trabalho neste governo é apontada como um erro por auxiliares de Lula. A visão do grupo que trabalha pela reeleição do presidente considera que Marinho, de origem sindicalista, está distante das pautas das novas formas de trabalho e não conseguiu viabilizar a aproximação com essas categorias nos últimos dois anos.

No ano passado, Lula enviou ao Congresso um projeto de lei complementar para regulamentar a atividade de motoristas de aplicativo (como Uber e 99), mas o projeto não andou. Neste ano, Boulos tenta avançar com uma proposta que estabelece remuneração mínima para entregadores. Ele diz ter discutido o tema com o governo, mas há ceticismo no Planalto sobre o quanto a pauta vai avançar no Congresso.

Até agora, a principal aposta do governo para contornar esse problema é o lançamento, neste ano, do crédito para compra de motos, aos entregadores, já anunciado por Lula. O programa está em fase de modelagem.

Reportagem

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