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Ruralistas atacam Marina, mas agro sabe que precisa da agenda ambiental

O Congresso Nacional foi palco de mais um episódio de disputa entre governo e bancada ruralista nesta semana. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, compareceu à Comissão de Agricultura da Câmara e enfrentou ataques de deputados da Frente Parlamentar Agropecuária, em mais um "show de horrores" protagonizado por parlamentares que "perderam a civilidade, se é que tiveram um dia", provoca José Roberto de Toledo no podcast A Hora desta sexta-feira (4).

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

O deputado Evair de Mello, do Espírito Santo, foi um dos mais agressivos, chamando Marina de "adestrada, mal-educada, nunca trabalhou, nunca produziu" e chegou a associar as técnicas da ministra às "do Hamas e do Hezbollah". Outros deputados, como Zé Trovão, de Santa Catarina, e Alberto Neto, da Amazônia, também partiram para "impropérios desse quilate".

Marina Silva respondeu às provocações , citando a Bíblia e dizendo que orou para manter a serenidade. E ainda fez referências à psicanálise de LacanO episódio ocorreu logo após o presidente Lula lançar pessoalmente o Plano Safra de 2025, com mais de R$ 500 bilhões em recursos. A Frente Parlamentar Agropecuária, liderada pelo deputado Pedro Lupion, classificou o anúncio como "peça de propaganda" e "puro marketing", argumentando que os juros da Selic a 15% inviabilizam qualquer benefício real.

Mas a crítica não se sustenta inteiramente. A agricultura paga os 15% de juros da Selic quando toma empréstimo jo sistema financeiro tradicional. Mas, no Plano Safra, as taxas para custeio e comercialização ficam entre 8,5% e 14%. Para médios produtores, através do PRONAMP, a taxa é de 8%. E para a agricultura familiar, via PRONAF, os juros são de apenas 3%.

O paradoxo fica evidente quando se ouve produtores rurais distantes do "ringue de Brasília". Alexandre Kireeff, produtor rural do Paraná que cria gado de corte, soja, milho e cana-de-açúcar, foi categórico: a agenda ambiental não é empecilho, mas condição fundamental para o agronegócio ser sustentável.

"O nosso Código Florestal devia ser peça de marketing externo. O Brasil devia traduzir em várias línguas e aplicar rigorosamente o que está previsto no Código Florestal", afirmou Kireeff. Para ele, a preservação é necessária não só para acessar mercados internacionais exigentes, mas para manter a produtividade alta.

O produtor vai além e critica a exploração de petróleo: "abrir novas frentes de exploração de petróleo não é o melhor caminho". Ele defende a substituição de combustível fóssil por alternativas como biocombustível, biomassa e energias solares. "Você não vai apagar o fogo com gasolina."

Enquanto isso, o agronegócio cresceu 12% no primeiro trimestre de 2025, puxando o PIB brasileiro que registrou 1,4% de crescimento. O setor também conquistou o status de Zona Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, selo de qualidade que abre novos mercados e garante padrão alto para a carne brasileira.

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A contradição é clara: enquanto a parte "goebeliana da bancada agro não entende, ou não quer entender, ou se entende e não pode admitir porque perde o voto", segundo Toledo, produtores reais sabem que "se você não cuidar do meio ambiente, não vai ter agricultura". A preservação ambiental é vista pelos que realmente produzem não como obstáculo, mas como garantia de futuro para o setor.

A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. O Canal UOL está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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