PT faz primeira eleição pós-Lava Jato com candidato de Lula como favorito

O PT elege hoje um novo presidente em meio a um debate sobre o reposicionamento do partido e com o candidato do presidente Lula (PT), o ex-ministro Edinho Silva, como favorito.

O que acontece

A eleição acontece depois de oito anos de gestão de Gleisi Hoffmann. Então líder do PT no Senado, ela assumiu o partido em junho de 2017, em meio à Operação Lava Jato, momento mais delicado da história da sigla. Hoje ministra das Relações Institucionais, ela passou o posto temporariamente ao senador Humberto Costa (PT-PE).

Edinho é o nome da corrente majoritária do PT. A CNB (Construindo um Novo Brasil), da qual o presidente Lula faz parte, representa quase 50% dos votos de filiados. Seu principal adversário é o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), que já dirigiu a sigla anteriormente e se lançou como independente. Os petistas históricos Romênio Pereira e Valter Pomar correm por fora.

Lula e o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva
Lula e o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva Imagem: Ricardo Stuckert/Instagram Edinho Silva

Para onde vai o partido

O PT encara um debate sobre como se posicionar frente ao crescimento da direita. De volta ao poder depois de seis anos, petistas dizem que o pior já passou, mas também avaliam que esperavam estar numa situação "mais estável".

A federação com PCdoB e PV tem a segunda maior bancada da Câmara, atrás do PL, mas tem passado dificuldades. Diferentemente do que ocorreu nos governos petistas anteriores, o partido fica isolado em votações relevantes, com apoio do PSOL e parcialmente do PSB e do PDT, e tem um poder de barganha limitado, mesmo ocupando o Palácio do Planalto.

A discussão, não exatamente uma novidade no PT, se dá entre aumentar o diálogo ao centro ou esticar a corda à esquerda. Edinho, conhecido como conciliador, defende a primeira estratégia, enquanto Falcão é adepto de retornar às origens.

Recheada de governistas, como o ministro Fernando Haddad (Fazenda), Gleisi e o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), a CNB optou pela suavização. Membros da corrente defendem que o partido conseguiu seus maiores êxitos quando dialogou com siglas ao centro e com setores mais distantes do tradicional discurso petista (bancos e mercado financeiro, por exemplo), como ocorreu nos primeiros mandatos de Lula e na eleição de 2022.

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Rui Falcão presidiu o PT entre 2011 e 2017 e representa a corrente minoritária Novo Rumo
Rui Falcão presidiu o PT entre 2011 e 2017 e representa a corrente minoritária Novo Rumo Imagem: Lula Marques/`PT

Rui Falcão defende estratégia oposta. O deputado argumenta que é exatamente por este afastamento das raízes à esquerda que o partido tem perdido sua identidade e, consequentemente, seu eleitorado.

Para ele, a polarização contribui para sua tese. Ele tem citado pautas como o fim da escala 6x1 e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, proposta pelo governo, como exemplos bem-sucedidos de como pautas pró-trabalhador ainda conseguem mobilizar a população.

Aliados dizem que este argumento tem ganhado força em meio ao último embate do governo. Defendendo estas mesmas pautas, os vídeos promovidos pelo PT, feitos com IA, têm viralizado nas redes sociais e furado a bolha de um jeito que nenhuma campanha da Secom (Secretaria de Comunicação) ou fala de Lula conseguiu até agora neste terceiro mandato.

Petistas dizem que as cartas estão na mesa. Com chancela da corrente majoritária e apoio indireto de Lula, que nunca declarou voto publicamente, mas não esconde a preferência, o nome de Edinho deverá ser confirmado no resultado amanhã.

Edinho Silva tem apoio de Lula e é favorito na eleição hoje
Edinho Silva tem apoio de Lula e é favorito na eleição hoje Imagem: Amanda Rocha/UOL
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Oito anos depois

O partido volta às urnas depois de oito anos em uma situação totalmente diferente. Em 2017, o PT era o principal alvo da Lava Jato, com grande parte das suas lideranças investigadas, incluindo o então ex-presidente Lula e a senadora e candidata eleita, Gleisi Hoffmann.

Fiel a Lula, Gleisi segurou a legenda durante os anos com menores números de novas filiações. Nas eleições municipais de 2020, o partido teve seu pior desempenho, sem eleger nenhum prefeito em capital pela primeira vez desde a redemocratização.

Agora, de volta à Presidência da República, o cenário é outro. O PT voltou a ver o número de filiados e de prefeitos eleitos subir em 2024 e se mantém como uma das maiores forças do Congresso.

Apesar do aumento, o crescimento está aquém do almejado pela legenda. Mesmo com a terceira bancada, o PT está longe de ter o poder que um dia teve, o que é sentido diariamente nas votações do Congresso, enquanto vê nomes da direita despontarem em diferentes regiões do país.

A renovação será um dos principais desafios do novo presidente. Com o número de jovens —uma marca do PT nos anos 1980— reduzido a pó depois da Operação Lava Jato, novas lideranças têm surgido, mas o partido precisa de volume.

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Lula e membros do governo repetem que, se não tiverem bases regionais e nacionais sólidas, de nada adianta estarem no Planalto. Para isso, é preciso, primeiro, ter um alto número de candidatos, segundo analisam membros do diretório.

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