Quem é Contarato, senador do PT que ignorou governo e apoia CPI do INSS

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O senador petista Fabiano Contarato (ES) não consultou o Planalto e irritou colegas de partido ao declarar apoio, sem articulação prévia, à abertura de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para investigar o esquema de fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Quem é o parlamentar?
Aos 58 anos, o capixaba Contarato é professor de direito e ex-delegado da Polícia Civil, função que exerceu por 27 anos. Sua graduação em direito foi feita na Universidade Vila Velha, mas ele tem pós em direito penal e processual pela Gama Filho, do Rio, e é especialista em Impactos da Violência na Escola pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Ele também já atuou como diretor-geral do Detran do Espírito Santo. Posteriormente, foi corregedor-geral do estado, na Secont (Secretaria de Estado de Controle e Transparência).
Contarato é casado com o fisioterapeuta Rodrigo Groberio desde 2017. Ele contou ao UOL em 2019 que se "cobrava para ser o melhor aluno da escola, da faculdade, para compensar a orientação sexual, como se fosse um erro", relembrou. "Quando era mais jovem, já sabendo que era gay, reprimia isso por um freio moral. Fui ter meu primeiro relacionamento homoafetivo com 27 para 28 anos de idade". Com o marido, ele é pai de dois filhos: Gabriel, adotado em 2017 e Mariana, adotada em 2020.
Senador ensaiou entrada na política em 2014, mas acabou desistindo. Filiado à época ao Partido da República (atual Partido Liberal, de Jair Bolsonaro), ele se retirou da disputa por "razões pessoais". Em 2018, voltou à disputa a uma vaga no Senado por outro partido, de tendência ideológica bastante diferente: a Rede Sustentabilidade.
Naquele pleito, Contarato fez história: foi o primeiro parlamentar abertamente homossexual eleito ao Senado. Ele recebeu mais de 1,1 milhão de votos, que desbancaram o favoritismo do líder de direita Magno Malta (então PR), que teve 611.284 votos e não se elegeu.
Contarato já se declarou católico fervoroso e defensor da Lava Jato. Ele faz oposição a projetos de legalização do aborto e propõe pautas de segurança pública na casa, mas defende os direitos da população LGBTQIAP+ encarcerada, o casamento homoafetivo, a proteção de dados de mulheres vítimas de violência doméstica e a conservação do meio ambiente.
À época da eleição de Bolsonaro para a Presidência, o capixaba esteve no grupo de senadores que se declararam neutros ao seu nome. Em outubro de 2021, no entanto, declarou que "os ataques feitos pelo então presidente às instituições foram muito graves". No programa "Roda Viva", da TV Cultura, ele disse que era preciso dedicar um capítulo inteiro da CPI da Covid à gestão do ex-presidente na pandemia.
Foi convidado por Lula para deixar a Rede e se filiar ao PT em 2021. Contarato aceitou e Lula se disse "muito feliz". Já o senador disse que pretendia somar esforços à militância social e às lideranças do PT para a "defesa dos direitos humanos, oportunidade aos mais pobres, combate a todo tipo de desigualdade", e elogiou as conquistas sociais das gestões de Lula e Dilma Rousseff à frente do país.
Desde sua chegada ao PT, o senador foi autor de um projeto que libera o porte de armas em unidades socioeducativas, apoiado por bolsonaristas. Agora, seu posicionamento a respeito da CPI causou mal-estar na base do governo
Foi o único senador do partido a votar pela derrubada do veto de Lula à proposta que acaba com a saída temporária dos presos no ano passado. Na ocasião, ele declarou ao jornal O Estado de S. Paulo que a quantidade de benefícios existentes passa "certeza de impunidade" para a família das vítimas.
O senador defende que o presidente endureça o discurso sobre a segurança pública no país. Ele, que é o único político titular que representa a esquerda na Comissão de Segurança Pública na Casa, elaborou um pacote com 12 projetos de lei para, segundo ele, combater a impunidade. As propostas vão na contramão de bandeiras historicamente defendidas pelo campo progressista.
Em 2022, Contarato anunciou sua pré-candidatura ao governo do estado do Espírito Santo. No entanto, o PT retirou sua candidatura cinco meses depois para apoiar a reeleição de Renato Casagrande (PSB), afirmando que Contarato seguiria ao lado de Lula..
Apoio a projeto de Damares
Contarato foi o primeiro petista a assinar o requerimento. Ele foi feito pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e protocolado na segunda-feira. "Assinei, entendo que essa apuração é necessária em benefício da população mais vulnerável. E todos aqueles que cometeram crimes devem pagar, independente de governo", disse Contarato ao UOL.
O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), condicionou o apoio a uma mudança do escopo da CPMI, para que a investigação não se limite a um ou outro governo. "O PT vai assinar, sim, essa CPI. Para a gente colocar na cadeia quem de fato tirou dinheiro dos aposentados. Nós vamos investigar olhando na linha do tempo todos os fatos e todas as pessoas, como fizemos na CPI da Covid e na CPI do 8 de Janeiro", disse.
As ações de Contarato e Carvalho irritaram tanto Planalto quanto base. Governistas disseram que eles não só agiram de forma "individualista" como "não foram estratégicos" ao aderirem a um movimento que não fosse feito em grupo.
As falas de Carvalho também escancararam as divergências entre bancadas. Líder do partido desde fevereiro, ele expôs um descontentamento público em direção oposta à do líder na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), radicalmente contra a instalação.
*Com informações de matéria publicada em 15/05/2025.
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