Prisão de Tuta não afetará negócios do PCC, dizem especialistas
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A prisão do homem apontado por anos como o líder do PCC nas ruas, Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, não deve afetar o funcionamento da organização criminosa, segundo especialistas no crime organizado ouvidos pelo UOL.
Tuta foi preso na última sexta-feira em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, após apresentar identidade falsa quando tentou renovar o documento estrangeiro. Ele foi enviado ontem para o Brasil.
O que dizem os especialistas
Tuta já não era mais a principal liderança solta. Lincoln Gakiya, promotor de Justiça de São Paulo que investiga o PCC há duas décadas, afirmou ao UOL que "Tuta não é mais o número 1 do PCC" e "existem outros criminosos de igual calibre que estão soltos na Bolívia". Em 2020, a operação Sharks, do Ministério Público de São Paulo, apontou Tuta como o substituto de Marcola (preso desde 1999) no PCC.
De lá para cá outras lideranças passaram a dividir com Tuta o comando da organização, segundo apurou o UOL. Segundo a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, há outras lideranças em liberdade que podem assumir as funções de Tuta. "É como numa empresa. Se o CEO e o vice saem, outras pessoas os substituem e a empresa continua funcionando", disse.
Corrupção na Bolívia
País vizinho virou reduto para o PCC. As demais lideranças da facção, segundo Gakiya, gerenciam os negócios a partir da Bolívia por meio de aplicativos de mensagens que não podem ser interceptados. Para o promotor, a prisão de Tuta representa uma "esperança" de que a Bolívia "passe a colaborar" com o Brasil na captura de outros criminosos que vivem no país.
Gakiya diz que a "corrupção naquele país justifica a presença de criminosos por lá por anos". Segundo afirma, integrantes do PCC encontraram "uma rede de proteção" na Bolívia. Ele cita André de Oliveira Macedo, o André do Rap; Sérgio Luiz de Freitas, o Mijão; Patrick Uelington Salomão, o Forjado; e Pedro Luiz da Silva, o Chacal.
Esses traficantes moram em condomínios de luxo, comandam comércios e levam os filhos à escola, disse o promotor. Para ele, há uma "facilitação" por parte das autoridades bolivianas para que os criminosos vivam tranquilamente no país.
Para a desembargadora Ivana David, a "guerra internacional" em torno da produção de cocaína atrapalha o combate ao crime organizado. "A Bolívia nunca negou que é uma das grandes produtoras de cocaína do mundo. Isso faz parte do PIB [Produto Interno Bruto] deles", disse ao UOL. "Eles vivem do comércio. Para eles, não é interessante parar de comercializar [a cocaína]".
Marketing e networking
O fato de Tuta não ser mais o "número 1 do PCC", segundo Gakiya, não diminui a importância da prisão dele. "É uma importante baixa", afirmou. Tuta exerce liderança no PCC desde 2006, quando coordenou a onda de ataques em São Paulo que mataram mais de 500 pessoas.
Recentemente, de acordo com o promotor, atuava como um "player responsável pelo tráfico internacional do PCC". Ele negociava a exportação da cocaína para a Europa. "Conseguia transitar entre Bolívia, Paraguai e Caribe", disse Gakiya.
"Tuta é um representante comercial", afirmou Ivana David. "É um homem articulado, com networking diferenciado. É inteligente e tem a confiança do Marcola".
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