Em meio a investigação da PF, governo vai trocar presidente da Codevasf

Pessoas próximas a Moreira dizem que a troca ocorre por vontade própria, já que ele está no cargo desde 2019, indicado no governo Bolsonaro, e recebeu propostas do setor privado. Antes da Codevasf, o executivo trabalhou na Odebrecht.

A indicação de Oliveira foi avalizada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que ouviu também o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do União no Senado, Efraim Filho (União-PB).

Alcolumbre controla o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, ao qual é subordinada a Codevasf. O ministro Waldez Góes (PDT), ex-governador do Amapá, foi indicado ao cargo pelo presidente do Senado.

Com orçamento de R$ 1 bilhão em 2025, a Codevasf, empresa estatal, é uma das mais cobiçadas por congressistas para envio de emendas parlamentares, especialmente para obras de pavimentação e entrega de maquinário agrícola.

Investigação de convênios

A troca acontece no momento em que convênios da Codevasf com a Prefeitura de Campo Formoso (BA) estão na mira da Operação Overclean, da Polícia Federal, por suspeita de fraude a licitação, corrupção e desvio de dinheiro.

Em um diálogo analisado pela PF no inquérito, Francisco Nascimento, primo de Elmar Nascimento que jogou dinheiro pela janela ao ser preso preventivamente na Overclean, diz que Moreira é "amigo e indicação nossa".

O prefeito de Campo Formoso é Elmo Nascimento (União), irmão de Elmar Nascimento. A Operação Overclean foi enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal) após surgirem indícios de pagamento de propina a um assessor de Elmar, o que indica participação de político com foro privilegiado no esquema.

No molde adotado pela Codevasf, a prefeitura é responsável por administrar os convênios, realizando as licitações. A PF encontrou indícios de pagamento de propina a funcionários da prefeitura para favorecer a Allpha Pavimentações, dos irmãos Alex e Fabio Parente, na concorrência.

Em entrevista ao UOL publicada na última sexta-feira, o engenheiro Miled Cussa Filho, demitido do cargo de superintendente da Codevasf em Juazeiro no início de maio, disse ter sido assediado e pressionado por Marcelo Moreira após cobrar informações da Prefeitura de Campo Formoso sobre os convênios.

A Codevasf diz não ter conhecimento de qualquer pressão e afirma que a exoneração veio após a confirmação de que o ex-superintendente participou de uma reunião, em 2023, com empresários que depois assumiram os convênios suspeitos de fraude.

Cussa Filho, por outro lado, diz que quem levou os empresários à reunião na Codevasf foi o prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento, e que eles não se identificaram como integrantes da Allpha Pavimentações.

Em ofícios enviados à CGU (Controladoria-Geral da União) e ao MPF (Ministério Público Federal), o ex-superintendente de Juazeiro enviou informações do registro de entrada no prédio que mostram que Elmo entrou acompanhado de dois empresários e um lobista.

Os convênios para pavimentação suspeitos de fraude receberam verba de Elmar Nascimento através das emendas de relator, conhecidas como orçamento secreto, que bancaram dois contratos, de R$ 45 milhões e R$ 12 milhões. O deputado federal nega irregularidades.

O nome do novo diretor-presidente será apreciado pela Casa Civil e, depois, pelo comitê de elegibilidade da Codevasf. Por fim, será votado pelo conselho de administração da estatal, cuja próxima reunião ocorre em 26 de maio.