Beatriz Bulla

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Opinião

Carta fora do baralho? Bolsonaro se esforça para mostrar que está no jogo

O ex-presidente Jair Bolsonaro fez esforço para mostrar, durante entrevista ao UOL nesta quarta, que ainda respira na política e está firme no jogo, embora pareça saber que a cada dia que passa corre mais risco de se tornar carta fora do baralho.

Bolsonaro vê o julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre tentativa de golpe de Estado como jogo de cartas marcadas - ou seja, antevê sua condenação. Chance de recorrer? Não vislumbra. Disse que é "game over", que é como brigar com a mulher e reclamar para a sogra.

Também não se vê na política findo o prazo da inelegibilidade imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Estou com 70 anos, eu não aguento disputar eleição daqui a oito, dez anos", disse.

A prisão, ele mesmo responde, seria o equivalente a uma pena de morte. Josias de Souza perguntou: "Pena de morte política?". "Política e física, porque não tenho mais condições de encarar um presídio", respondeu Bolsonaro.

Há pouco o que Donald Trump, supostamente seu aliado, possa fazer com relação a isso nos Estados Unidos. E Bolsonaro demonstra saber disso ao titubear para responder o que, de concreto, espera do americano.

Carla Araújo perguntou o que o fez mudar de postura com relação à imprensa, aceitando, por exemplo, conceder a entrevista ao UOL, um veículo profissional e independente que não se curva aos mandos de políticos. Jair Bolsonaro, que sempre falou para o seu nicho, se mostrou preocupado em furar a bolha - e usou o termo explicitamente.

No Congresso, também pode sair frustrado. Disse que o apoio a David Alcolumbre não pressupôs que ele emplaque a anistia, mas foi uma forma de o PL não se tornar um "zumbi" na casa. Parece ainda ser esta a sua melhor aposta.

Ele vê a disputa dentro da direita surgir e, acuado, tenta não ser atropelado. Se não se visse ameaçado, não precisaria fazer, como fez, um apelo público pela lealdade dos governadores possíveis candidatos em 2026. Cobrou deles que defendam sua elegibilidade. Foi ainda claro ao dizer que não anuncia já o nome que irá apoiar nas eleições do ano que vem para continuar a ser procurado, não se esvaziar tão rápido de poder.

Em suma: Bolsonaro espera ser condenado e não vê chance para recorrer. Não se imagina na política daqui a dez anos. Não sabe bem que apoio esperar de Trump. Não imagina que aguente uma prisão. Teve que apoiar um presidente do Senado que pode deixá-lo na mão. E agora teme que alguém capitalize a massa de direita que ajudou a formar nos últimos anos no Brasil e o deixe, além de tudo, sem levar os créditos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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